"Gentes de mato e de grota, de vãos e veredas, de capinzais e roças: eis os povos dos campos gerais em permanente simbiose com o Cerrado, o segundo maior bioma da América do Sul. Antes de qualquer viagem através da lente de André Dib, a desvelar vastidões e abismos, morros e corcovas, águas cristalinas e choros de cachoeiras, chapadas e platôs, os quais não raro excedem o horizonte, é válido lembrar que os habitantes dessas cercanias, – a um só tempo, reais e míticas – formam a incontornável fonte de inspiração e a matéria viva a que lançou mão certo gigante das veredas para compor suas fabulosas estórias que percorreram todos os quadrantes do mundo. “Um chamado João”, a quem Carlos Drummond de Andrade, com reverência, indagou num poema sobre o escritor que misticamente “guardava rios no bolso” (...) É desse patrimônio imaterial do qual Dib também se serve, bem como da fauna e da flora que perfazem uma ambiência escandalosamente exuberante, tornando o território um dos lugares mais belos do país. Embora pese o valor documental de suas fotografias, sobretudo nos últimos tempos em que o Brasil profundo, infelizmente, figura mais em crônicas de morte e extermínio, sendo comentado bem menos em razão de suas belezas naturais, o presente livro, Povos dos campos gerais, traz simultaneamente um registro sensível e crítico às questões ambientais mais urgentes da região, configurando-se como um brado em prol da natureza que ainda pulsa, instituindo, com engenho e arte, um libelo contra o obscurantismo e a ignorância de nossos dias, sem perder de vista a delicadeza do olhar que sonha não apenas o abraço telúrico em nacos de nuvens, mas também almeja a força transformadora, o alimento e a cura em mãos humanas."