O livro tem a intenção de retratar algumas facetas da vida cotidiana das crianças e jovens “Filhos (e filhas) da África em Portugal”, que vivem no bairro Cova da Moura em Lisboa e vivenciam os dilemas de serem portugueses e africanos em terras portuguesas, mas sem a condição de sujeito de direitos, como um português ou um branco. Trata-se dos filhos e netos da escravidão, todos migrantes africanos, meninos e meninas africanos, luso-africanos, negros africanos e portugueses, que vivem as agruras das desigualdades sociais, culturais e raciais no seio da encantada Lisboa. O livro, privilegia uma narrativa visual que possa expressar, com o apoio de versos do rap, o cotidiano e suas representações sobre os conflitos e as ‘encruzilhadas identitárias’ com que se deparam, isto é, o racismo, a falta de oportunidades de trabalho e o fato de já não serem mais africanos, tampouco cidadãos portugueses, ainda que lusófonos de fato e de direito. O escopo principal destas páginas, repletas de imagens infanto-juvenis e de alguns adultos da comunidade da Cova da Moura, é recuperar as memórias das fotografias realizadas de 2007 a 2008, com vistas a fortalecer as lutas antirracistas e de classe social das famílias, de suas crianças e jovens que, vivem em meio expostas aos preconceitos e humilhações por parte da elite portuguesa branca, ou seja, de uma sociedade saudosista pelo período colonialista e escravista da história que parece não ter fim.